Listas de realizações, planejamento de objetivos e uma nova oportunidade de recomeçar planos e interesses que ficaram adormecidos ao longo do ano. É isso o que costumamos fazer nas últimas semanas de dezembro, uma espécie de alinhamento com o que conquistamos, mas também com as coisas que ficaram pendentes e gostaríamos de aprimorar na rotina e em uma nova oportunidade em nossas vidas.

Comumente nos damos conta de que todos nós somos apegados a um bom caderno sem pauta e um espaço livre para rabiscar e incluir os nossos desejos para um novo ciclo. “É natural a gente criar e gerar listas de expectativas. Sempre vamos querer os maiores desejos, e esperamos que seja um ano maravilhoso”, explica Edwiges Parra, psicóloga comportamental e professora convidada da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Assim como você, eu também já incluí algumas coisas que gostaria de ver mais presentes em mim no novo ano que se inicia em poucos dias, como me alimentar melhor, ter mais momentos de lazer e passar mais tempo com as pessoas que amo.

Mas vale ter cautela. Antes de incluirmos uma lista enorme de coisas que gostaríamos de fazer, é importante concretizarmos o que já foi conquistado. “O que a gente deve ter cuidado nesse sentido é que, antes de criarmos coisas, é preciso consolidar o que a gente fez para ter esse senso de realização”, explica Edwiges Parra.

O que fiz em 2022?

Certamente não foi pouca coisa. Depois de longos doze meses, houve cursos, viagens, encontros com amigos, familiares, idas ao cinema, festas, feriados, mas também muito tempo de descanso, sono e cuidados com o corpo. “Se você não reconhece seus feitos, você não pode chegar querendo coisas em 2023”, é o que me diz Edwiges durante a nossa conversa.

Ao final da leitura desta matéria, comece então com um caderno, caneta e anote tudo aquilo pelo qual se orgulha de ter feito nos últimos meses, de janeiro até aqui. Reconhecer isso faz com que as sensações de frustração e não realização sejam menores ou até desapareçam. Assim, podemos perceber o quanto dedicamos tempo e energia para aquilo que alcançamos. “Um dos grandes motivos de sentirmos descontentamento pela vida é pela falta de reconhecimento de tudo o que já fizemos”, comenta Edwiges Parra.

No Instagram, o projeto Hábitos que Mudam (@habitosquemudam) nos dá uma dica preciosa: escreva uma carta para si, ponha tudo aquilo que te faz sentir gratidão e satisfação por esse ano, apesar das dificuldades, dores e incertezas que pode ter passado. Tudo bem, talvez esse ano não tenha sido o seu melhor e o maior desejo seja que ele acabe – assim, aproveite para incluir isso nos seus escritos e transforme este em um momento de introspecção consigo mesmo.

Disciplina e metas para 2023

Falar sobre disciplina às vezes nos deixa desconfortáveis, porque temos a ideia de rigidez e pouca mobilidade. Por outro lado, ressignificar essa palavra pode ser um dos passos a serem dados em 2023. “É a disciplina que faz com que a gente entregue, tenha realizáveis”, explica Edwiges Parras.

É com ela que poderemos montar uma rotina que nos beneficie e abrace as nossas necessidades. “As pessoas precisam de rotina, mas a rotina que foi há muito tempo desenhada por todos nós está sempre vinculada com a palavra monótono”, explica a psicóloga. Talvez acordar todos os dias às 5h da manhã para irmos à academia possa parecer muito chato, mas podemos tentar um novo caminho de casa até lá, aproveitar para ouvir o cantar dos pássaros, o nascer do sol ou alternar os exercícios que fazemos.

“A rotina é a repetição daqueles pontos que são importantes e fortalecedores, e mesmo naqueles dias em que eu estiver em baixa eu vou repeti-los, porque é isso que nos segura”, explica Edwiges. Tendo isso consolidado, podemos planejar objetivos a serem alcançados a partir da rotina. Por exemplo: praticar exercícios físicos e ter uma alimentação saudável pode ser algo a ser incluído na rotina e, assim, buscar hábitos como correr 30 minutos diariamente ou colocar no prato três vegetais a cada refeição.

Construção de bons hábitos

De nada adianta passarmos para um novo ano se não incluirmos bons hábitos na nossa rotina e atividades que sejam benéficas para a qualidade de vida e bem estar. Para Edwiges Parra, precisamos de um repertório de ações, como organização, planejamento, ação de repetição, e entender como isso pode ser revisitado ao longo do caminho.

É preciso entender nosso próprio ritmo e como isso se combina com as práticas que queremos adotar no nosso cotidiano. Se para você praticar ioga, aprender um novo idioma e manter uma rotina de atividade física regular são essenciais para 2023, isso deve ser feito seguindo a tríade do repertório de ações na nossa vida. Além disso, todo esse planejamento precisa caminhar alinhado com nosso ritmo – e não o do nosso vizinho ou daquela pessoa que admiramos no Instagram.

“A comparação serve para que a gente tenha um norte de coisas que são boas, ruins, fáceis ou difíceis”, conta Edwiges. Por isso, precisamos fazer um movimento para entender até que ponto nossas escolhas priorizam as necessidades e aquilo que gostaríamos de alcançar. “Suas escolhas são suas ou você está indo pela imposição da manada?”, questiona a psicóloga.

Uma dica simples para estarmos alinhados com a nossa trajetória é sempre nos perguntarmos qual a vida que queremos ter e o que podemos fazer para alcançá-la. Quero viver em uma pequena cidade no campo ou em uma grande metrópole? O que preciso para atingir isso? Meu objetivo é ser um expert em yoga e filosofia oriental ou participar de competições crossfit?

Somos muito diferentes entre si, possuímos trajetórias diversas e, por isso, a comparação pode ser algo tão mais exaustivo e ineficaz do que orientador.

Uma vida que funcione

Frequentemente podemos nos ver perdidos em meio a todo o turbilhão de coisas que acontecem na nossa vida, nos perdemos em objetivos que queremos alcançar e nos espelhamos em coisas que no fim não fazem tanto sentido ao nosso propósito. Para um novo ano e ciclo, é importante seguirmos os passos que são construídos com os hábitos, rotina e objetivos que nos propusemos alcançar.

“O que é ter uma vida simples? É uma vida que funcione”, conta Edwiges Parra, psicóloga entrevistada para essa matéria. “O simples é o descomplicado. Não significa que você não vai ter problemas, mas vai fazer a sua vida funcionar”, acrescenta a professora. Isso não quer dizer que você precise abandonar tudo para viver em um vilarejo rural, mas adequar a sua rotina à uma vida plena e com leveza.

E você, já organizou os planos e objetivos para 2023?

Fonte: Vida Simples

Por: ALESSANDRO FERNANDES é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará e estagiário na Vida Simples. Natural do Rio Grande do Norte, acredita no veganismo popular como uma das ferramentas de transformação da sociedade e no potencial da escrita e do Jornalismo em tocar as pessoas. Pautas: alessandro@vidasimples.co